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Inajá Martins de Almeida

sábado, 2 de março de 2024

AUTOPSICOGRAFIA - análise

Poema Autopsicografia, de Fernando Pessoa (análise e significado)

 

Revisão por Rebeca Fuks - Doutora em Estudos da Cultura

 

O poema Autopsicografia é uma obra poética da autoria de Fernando Pessoa que revela a identidade de um poeta e aborda o processo de escrever poesia.

Os versos, escritos em 1 de abril de 1931, foram publicados pela primeira vez na revista Presença número 36, lançada em Coimbra, em novembro de 1932.

Autopsicografia é uma das poesias mais conhecidas de Fernando Pessoa, um dos maiores poetas da língua portuguesa.

Descubra abaixo uma análise dos tão consagrados versos pessoanos.

Poema Autopsicografia na íntegra

O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

 

Interpretação do poema Autopsicografia

Uma psicografia consiste numa representação de fenômenos psíquicos ou na descrição psicológica de alguma pessoa. "Auto", por sua vez, é um termo usado para designar quando nos referimos a nós mesmos transmitindo a noção de si próprio.

Desta forma, é possível dizer que com a palavra "autopsicografia", o autor pretende abordar algumas das suas características psicológicas. O poeta mencionado nesta obra poética é, portanto, o próprio Fernando Pessoa.

Na primeira estrofe é possível verificar a existência de uma metáfora que classifica o poeta como um fingidor. Isso não significa que o poeta seja um mentiroso ou alguém dissimulado, mas que é capaz de se transformar nos próprios sentimentos que estão dentro dele. Por essa razão, consegue se expressar de maneira única.

O poeta é um fingidor

Finge tão completamento

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras


Se no senso comum o conceito do fingidor costuma ter um significado pejorativo, nos versos de Fernando Pessoa temos a noção de que o fingimento é um instrumento da criação literária.

Segundo o dicionário, fingir vem do latim fingere e significa "modelar na argila, esculpir, reproduzir os traços de, representar, imaginar, fingir, inventar".

A capacidade de fingir de Fernando Pessoa explica a criação dos vários heterônimos pelos quais ficou conhecido. Os mais famosos heterônimos pessoanos foram Álvaro de Campos, Alberto Caeiro e Ricardo Reis.

Fernando Pessoa consegue abordar várias emoções e se transformar em cada uma delas, criando assim diferentes personagens com formas distintas de ser e de sentir.

E os que leem o que escreve,

Na dor lida sentem bem, 

Não as duas que ele teve,

Mas só a que eles não têm.


Vemos na segunda estrofe que a capacidade do poeta de expressar certas emoções desperta sentimentos no leitor. Apesar disso, o que o leitor sente não é a dor (ou a emoção) que o poeta sentiu nem a que "fingiu", mas a dor derivada da interpretação da leitura do poema.

As duas dores que são mencionadas são a dor original que o poeta sente e a "dor fingida", que é a dor original que foi transformada pelo poeta.

Na terceira e última estrofe, o coração é descrito como um comboio (trem) de corda, que gira e que tem a função de distrair ou divertir a razão. Vemos neste caso a dicotomia emoção/razão que faz parte do cotidiano do poeta. Podemos então concluir que o poeta usa o seu intelecto (razão) para transformar o sentimento (emoção) que ele viveu.

E assim nas calhas de roda

Gira, a entreter a razão,

Esse comboio de corda

Que se chama coração.


Autopsicografia é erguido a partir de um jogo de repetições que cativa o leitor e o leva a querer saber mais sobre a construção do poema e sobre a personalidade do poeta.

Podemos afirmar que se trata de um metapoema, ou seja, um poema que se dobra sobre si mesmo e tematiza as suas próprias engrenagens. O que transparece para o leitor são os mecanismos de composição da obra, dando ao leitor um acesso privilegiado aos bastidores da criação. O prazer é obtido justamente do fato do poema explicar-se generosamente ao público.

Estrutura do poema Autopsicografia

O poema é composto por três estrofes, com 4 versos (quartetos) que apresentam rima cruzada, sendo que o primeiro verso rima com o terceiro e o segundo rima com o quarto.

Relativamente à escansão do poema Autopsicografia (a sua métrica), o poema se qualifica como um redondilha maior, o que significa que os versos são heptassílabos, ou seja, têm 7 sílabas.


Sobre a publicação de Autopsicografia

Os consagrados versos de Fernando Pessoa foram publicados pela primeira vez na revista Presença número 36.

A edição foi lançada em Coimbra, em novembro de 1932. O poema original foi escrito no dia 1 de abril de 1931. 


fonte:

https://www.culturagenial.com/poema-autopsicografia-de-fernando-pessoa/

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CINCO POR CENTO

 

Cinco por cento

Tínhamos uma aula de Fisiologia na escola de medicina logo após a semana da Pátria. Como a maioria dos alunos havia viajado aproveitando o feriado prolongado, todos estavam ansiosos para contar as novidades aos colegas e a excitação era geral. Um velho professor entrou na sala e imediatamente percebeu que iria ter trabalho para conseguir silêncio. 

Com grande dose de paciência tentou começar a aula, mas você acha que minha turma correspondeu? Que nada. Com um certo constrangimento, o professor tornou a pedir silêncio educadamente. Não adiantou, ignoramos a solicitação e continuamos firmes na conversa. Foi aí que o velho professor perdeu a paciência e deu a maior bronca que eu já presenciei. 

"Prestem atenção porque eu vou falar isso uma única vez", disse, levantando a voz e um silêncio carregado de culpa se instalou em toda a sala e o professor continuou. 

"Desde que comecei a lecionar, isso já faz muito anos, descobri que nós professores, trabalhamos apenas 5% dos alunos de uma turma. 

Em todos esses anos observei que de cada cem alunos, apenas cinco são realmente aqueles que fazem alguma diferença no futuro; apenas cinco se tornam profissionais brilhantes e contribuem de forma significativa para melhorar a qualidade de vida das pessoas. Os outros 95% servem apenas para fazer volume; são medíocres e passam pela vida sem deixar nada de útil. O interessante é que esta percentagem vale para todo o mundo. 

Se vocês prestarem atenção notarão que de cem professores, apenas cinco são aqueles que fazem a diferença; de cem garçons, apenas cinco são excelentes; de cem motoristas de táxi, apenas cinco são verdadeiros profissionais; e podemos generalizar ainda mais: de cem pessoas, apenas cinco são verdadeiramente especiais. 

É uma pena muito grande não termos como separar estes 5% do resto, pois se isso fosse possível, eu deixaria apenas os alunos especiais nesta sala e colocaria os demais para fora, então teria o silêncio necessário para dar uma boa aula e dormiria tranquilo sabendo ter investido nos melhores. 

Mas, infelizmente não há como saber quais de vocês são estes alunos. Só o tempo é capaz de mostrar isso. 

Portanto, terei de me conformar e tentar dar uma aula para os alunos especiais, apesar da confusão que estará sendo feita pelo resto. 

Claro que cada um de vocês sempre pode escolher a qual grupo pertencerá. Obrigado pela atenção e vamos à aula de ".

Nem preciso dizer o silêncio que ficou na sala e o nível de atenção que o professor conseguiu após aquele discurso. Aliás, a bronca tocou fundo em todos nós, pois minha turma teve um comportamento exemplar em todas as aulas de Fisiologia durante todo o semestre; afinal quem gostaria de espontaneamente ser classificado como fazendo parte do resto? 

Hoje não me lembro muita coisa das aulas de Fisiologia, mas a bronca do professor eu nunca mais esqueci. Para mim, aquele professor foi um dos 5% que fizeram a diferença em minha vida. 

De fato, percebi que ele tinha razão e, desde então, tenho feito de tudo para ficar sempre no grupo dos 5%, mas, como ele disse, não há como saber se estamos indo bem ou não; só o tempo dirá a que grupo pertencemos. 

Contudo, uma coisa é certa: se não tentarmos ser especiais em tudo que fazemos, se não tentarmos fazer tudo o melhor possível, seguramente sobraremos na turma do resto." 


Autor desconhecido 

http://www.otimismoemrede.com/cincoporcento.html

 

http://www.motivaonline.com.br/artigo/48008-os-cinco-por-cento.html - outro texto mais curto

FOCO

 

Foco 

Por Jim Mathis

 

Tempos atrás fui surpreendido pelo entendimento proporcionado por uma história em quadrinhos, retratando uma pessoa com grande dificuldade para concentrar o foco em uma única tarefa. O personagem tentava desesperadamente – e falhava miseravelmente – lidar com todas as situações que requeriam sua atenção ao mesmo tempo.

 

Parece que está se tornando cada vez mais difícil nos concentrar numa única coisa por muito tempo. A sociedade moderna definitivamente tem nos levado a manter períodos curtos de atenção. Se assistirmos qualquer programa de tevê ou filme, vamos notar como as coisas se movem rapidamente e o ritmo acelerado do enredo. Um comercial típico de tevê muda as imagens a cada poucos segundos, às vezes menos. A lógica é: se não capturarmos a atenção do indivíduo imediatamente, ele vai se voltar para outra coisa. 

 

Com tantas coisas competindo por nossa energia mental, que vão da Internet passando pelas mensagens de texto e e-mails, é de admirar que ainda sejamos capazes de concentrar o foco em alguma coisa. A realidade, contudo, é que as maiores realizações do mundo foram alcançadas por pessoas que permaneceram focadas numa tarefa até ver seus objetivos ser atingidos.  

 

Realizar múltiplas tarefas simultaneamente, nos dizem, é ótimo. Mas isso simplesmente significa que não estamos empregando cem por cento de nossa atenção e energia em coisa alguma. Muitos acidentes – dirigindo um carro, operando uma máquina ou cuidando de uma criança – ocorrem porque as pessoas se distraem ou tentam fazer mais de uma coisa por vez. Mesmo que não ocorra nenhum desastre, permitir que inúmeras demandas disputem nossa atenção resulta em desempenhos medíocres. 

 

Anos atrás decidi diminuir meu foco profissional. Eu me defini como fotógrafo, escritor e músico. Isso por si só parece muito, mas o que deixei para trás era igualmente importante. O que eu quis dizer era que não iria tentar ser jogador de golfe, jardineiro, pescador ou marceneiro. Sabendo que dispunha de um limitado número de horas por dia, decidi dedicar-me ao que gostava mais e fazia melhor. Em última análise, queria reconhecer e seguir a minha vocação. Desde então descobri que posso definir com clareza quem eu sou, e o que faço tem me ajudado a manter minha vida focada. Afinal de contas, ao contrário de máquinas fotográficas sofisticadas, não somos equipados com “foco automático”. 

 

Há um vigoroso princípio espiritual por trás do desejo de manter foco apesar das muitas distrações da vida. A Bíblia diz: “E tudo o que vocês fizerem ou disserem, façam em nome do Senhor Jesus... O que vocês fizerem façam de todo o coração, como se estivessem servindo ao Senhor e não as pessoas. ...o verdadeiro Senhor que vocês servem é Cristo” (Colossenses 3.17,23-24). 

 

Olhando em redor e vendo a maravilhosa criação de Deus, observamos que Ele não fez nada medíocre ou com indiferença. Tudo Ele fez com excelência. Devíamos esforçar para fazer o mesmo.

 

Dirigindo um negócio, servindo a um cliente, construindo um casamento ou criando um filho, precisamos de foco e segurança que o que estamos fazendo, está recebendo toda nossa atenção e  nosso melhor esforço. 

 


Texto de autoria de Jim Mathis, diretor executivo do CBMC em Kansas, Missouri e em conjunto com a esposa Louise dirigem uma Cafeteria. Tradução de Mércia Padovani. Revisão e adaptação de J. Sergio Fortes (fortes@cbmc.org.com)