Quando o autor coloca um ponto final no texto, uma nova história começa a ser contada.

É o momento em que a leitura vai além do ponto...

Inajá Martins de Almeida

quinta-feira, 25 de abril de 2024

A MENINA DA VARANDA - Leo Cunha

Encontros nos são inesperados. Quantas vezes capturam-nos a mente, a alma e os sentidos e nos colocam tempo a refletir, a compartilhar, a compor outras linhas. Ademais, um título, por sua vez, pode percorrer os labirintos do ser e resgatar memórias incontidas, nos profundos calabouços da alma.

Quantas são as situações que nos colocam entre as meninas de branco, de rosa, as quais podem ser referenciadas por quem as vê, mas não legível para quem apenas observa quem fala - geralmente num leito de hospital,  em camas, quando quartos são transformados em palco para um porvir, apenas visível para quem está entre o limiar da transição; entre o real, que se pode perceber, e o invisível, um tanto quanto confuso e difuso para quem observa.

Daí, o texto vem ao encontro da nossa própria solidão, do abandono, dentro dos próprios lares, dos nossos mais queridos. A solidão da ausência, do abraço, da presença que se almeja, da compreensão que nem sempre é possível. Da fala que se cala no peito sem respaldo, sem diálogo. Da interrogação que procura resposta em vão.

Quantas Cecílias podem ser encontradas em apartamento luxuosos ou modestos, em casas, casebres, ou mesmo em quartos compartilhados com outras tantas personagens anônimas, que se abandonaram ou foram abandonadas pelas circunstâncias aquém do percurso.

Eis que "A menina da varanda" me ofusca os sentidos, captura-me pelo título, pela capa, pela mensagem, e, a partir de então, ainda que não tenha o livro em mãos, a internet me representa o encontro com áudios, releases, fotos e as quero presente neste espaço, quando minhas linhas podem percorrer o texto e alongar em nova fala, dentro do próprio contexto.    

Adentro algumas sinopses e as trago para minha composição: 



clique sobre a foto para ampliá-la
______________________________________

Que surpresa uma janela pode revelar? Uma menina? Um anjo? Não importa. Com uma linguagem extremamente lírica, o autor expõe, em A menina da varanda, a solidão da velhice e uma forma pouco mostrada de abandono: a dos pais, após anos de dedicação aos filhos.

Quando os filhos não fazem mais companhia, os óculos não servem mais e a solidão passa a ser uma realidade, basta existir alguém para ouvir, mesmo que seja uma criança desconhecida, vista de relance, entre a correria da cidade. O jornalista Leo Cunha conta, em seu novo infantil A menina da varanda, uma história delicada, com vários ângulos e poucas certezas. Uma metáfora sensível sobre o tempo que passa, o tempo que falta e o tempo que nos resta. 

Leo Cunha apresenta o leitor a uma pianista aposentada que encontra um novo significado para a sua vida, ao estabelecer uma ligação virtual com uma menina desconhecida, moradora de um prédio em frente ao seu. Lá em cima, no décimo andar, a velha pianista só enxerga prédios e mais prédios da cidade imensa, e pra piorar, o inverno está chegando.

Mas tudo pode mudar quando a pianista descobre uma novidade no prédio em frente: a menina da varanda. A partir de agora, a pianista vê um alguém com quem conversar, contar suas histórias e desfiar suas lembranças. Uma pessoa para lhe fazer companhia enquanto seu próprio filho vive ocupado e mal acha tempo pra uma visita, um abraço.

Jornalista e professor universitário, Leo Cunha já publicou Suas obras receberam prêmios importantes, como o Nestlé, o João-de-Barro, o Jabuti, entre outros. Leo, que é também tradutor de vários livros infantis e juvenis, nasceu e mora em Minas Gerais, onde busca inspiração para a maioria de suas histórias e poemas. Casado, tem uma filha chamada Sofia, a quem dedica esta história. 


fonte: https://www.amazon.com.br/MENINA-VARANDA-Leo-Cunha/dp/8501055697

__________________________________________________


E eis que me vejo, também, numa janela, quando parte da Rodovia Anhanguera demonstra movimento de carros, caminhões, enfim, de um trânsito ininterrupto no seu vai-e-vem constante. E penso o que uma janela pode me revelar eu que já estive num oitavo andar, a compor minhas solidões, minhas expectativas, meus sonhos, minha visão de passado - que a memória insiste em resgatar constantemente - num presente que se compõe e recompõe em reconstruções necessárias, neste segundo andar, deste condomínio que se apresenta promissor para criação de meus planos futuros, ao fitar o azul do céu, ou mesmo a lua cheia desta manhã, quando o registro se fez necessário, através da janela.

E, quantas vezes, a fala advém do cenário que se mantém todo aberto aos meus devaneios, às minhas pontes, pouco a pouco sendo reconstruídas, numa comunicação prazerosa, repleta de signos e significados para este outono que avança constante, ainda que seja apenas no imaginário de figuras fictícias que me vem servir de amigos, de ouvintes, muito embora a prima Matilde possa me fazer companhia constante - aliás, há anos somos parceiras em nossos trabalhos, em nossas conversas, razão pela qual a solidão, quantas vezes é dissipada, pois que podemos compactuar memórias familiares, passeios prazerosos, compromissos diários, o que nos torna menos solitárias, menos propensas aos amigos imaginários entre varandas; sim, agora temos uma varanda repleta de plantas, janela aberto ao horizonte.  


Logo ao raiar do dia, o magnífico espetáculo da lua a brilhar adentrando quarto, varanda, ao se deixar fotografar. 

Este é o momento em que da varanda do apartamento, uma nova perspectiva se abre toda a mim.  Os momentos me são propícios aos registros, os quais os quero aproveitar em sua plenitude.

Agradecer cada amanhecer. Agradecer cada olhar através da janela, por entre as grades sempre almejando a liberdade que somente o eterno nos pode proporcionar.

Este é um aparte que se faz necessário para que a menina, que há dentro de mim,  possa olhar através da varanda. 

____________________________________________   

Por sua vez, o piano, ao lado, contrapõe as notas que soam em meio à solidão de ausências. Notícias que não chegam. Telefone que não toca. 

O computador, disposto na sequência, consegue atenuar ausências, saudades e sigo avante, compondo meus retalhos de existência que se prolonga em décadas, num espaço que procuro manter cada vez mais arejado, claro, vibrante de memórias, as quais, aos poucos posso dar novos coloridos, aos momentos sombrios que tentam afetar minha mente.

Assim é que, nesta manhã quente de outono, a menina da varanda pode me encontrar e tecer em mim memórias incontidas, de um quarto, que a cada dia tem se tornado mais familiar aos meus anseios. Além do que as manhãs, ao contemplar os prédios, os espaços abertos, recortados por plantas, a me fazer sentir numa vilazinha, ou mesmo numa praia, sem mar, o céu azul, as vozes que soam, trazem alento de que não se está só e é possível contemplar a beleza através da janela, ou mesmo alcançando a varanda.        

 

  



Nenhum comentário:

Postar um comentário